Discursos e Intervenções

DISCURSO PRONUNCIADO PELO COMANDANTE EM CHEFE FIDEL CASTRO RUZ, NA ESCADARIA DA UNIVERSIDADE, EM 27 DE NOVEMBRO DE 1960

Data: 

27/11/1960

Estudantes [APLAUSOS];

Jovens Rebeldes [APLAUSOS];

Brigadas Juvenis [APLAUSOS];

Milicianas [APLAUSOS];

Milicianos [APLAUSOS];

Povo [APLAUSOS]:

Há, neste 27 de Novembro, uma circunstância digna de atenção, e é que este acto, este ano, está sendo ainda maior que o acto do ano passado. E isso quer dizer muito. Quer dizer que, com o passar do tempo, não acontece o que antes acontecia, que as comemorações como esta iam perdendo calor de povo.

A presença de um número maior de cubanos, no acto desta noite, significa que as comemorações patrióticas e revolucionárias têm cada vez mais calor de povo. Por quê? Simplesmente, porque a consciência revolucionária do povo cresce e se fortalece. E não se trata apenas de que um número maior de cubanos venha este ano à escadaria da universidade, mas que é preciso levar em conta também que esse fato significa, em outro nível, uma derrota para a contra-revolução [APLAUSOS].

Para a Revolução Cubana, este acto significa muito, depois de quase dois anos de revolução, depois das medidas radicais e profundas que a Revolução trouxe ao nosso país.

Se este acto se realizasse no campo, e os camponeses viessem em massa, seria algo muito natural. Se este acto se realizasse entre os trabalhadores, e os trabalhadores viessem em massa, seria algo muito natural. A classe operária e os camponeses, que na sua maior parte são também operários agrícolas, estão com a Revolução. E isso é muito lógico.

A reacção não tentou travar a sua batalha no seio da classe operária. A contra-revolução não tentou ganhar terreno entre os camponeses. Mas a contra-revolução concentrou, na Universidade de Havana e nos sectores estudantis, as suas esperanças de tomar posições. Por quê? Porque a massa estudantil é uma massa heterogénea; a composição da massa estudantil é variada, e, em geral, os filhos das famílias mais pobres não tinham oportunidade de vir estudar na universidade. A oportunidade de estudar, no nosso país, estava em razão inversa aos recursos económicos, ou, dizendo melhor – para não provocar aqui uma confusão aritmética –, na razão directa dos recursos, e em razão inversa à pobreza. Ou seja, quanto mais pobres eram as famílias, menos oportunidades de estudar tinham os seus filhos.

Quem, por exemplo, limpou sapatos nas ruas da nossa capital? De onde saem essas crianças que vendem jornais, em plena noite ou pela madrugada? Que oportunidade tinham de estudar na universidade? E que oportunidade tinham, os filhos das famílias camponesas, se no campo não havia nem sequer professores de ensino primário?

Aqueles cujas famílias tinham recursos, podiam ir à cidade, e podiam estudar nos institutos, e podiam estudar nas universidades. Alguns, os mais privilegiados, podiam ir estudar também no estrangeiro; iam ou aos Estados Unidos, ou à Europa. As famílias mais pobres do país, em geral, e salvo excepções, não podiam mandar os seus filhos estudar.

Podia haver pobres na universidade, é claro; e na universidade e nos institutos, há muitos filhos de famílias pobres, mas na universidade há também filhos de famílias de recursos medianos, e há também filhos de famílias ricas.

Podia acontecer que um jovem pobre não pudesse estudar. O que não podia acontecer, na nossa pátria, era que um jovem rico não pudesse estudar. O jovem rico que não estudasse, era porque não queria. E, em geral, as famílias ricas queriam que os seus filhos estudassem, e estavam muito interessadas em poder perpetuar os seus interesses por meio deles. Essa é uma coisa rigorosamente certa.

Entre os estudantes afectados, estudantes universitários, havia estudantes cujos interesses familiares tinham sido afectados pelas leis revolucionárias. Por isso, em todas as partes do mundo, a contra-revolução trata de ganhar terreno, não entre os camponeses – o que a contra-revolução vai dizer a um camponês que se livrou do arrendamento? O que a contra-revolução vai dizer a um camponês cuja vida mudou radicalmente, a quem a Revolução livrou da miséria, da exploração e da humilhação, a quem a Revolução deu tantos benefícios? O que a contra-revolução vai dizer aos operários?

A contra-revolução tem, como prioridade, os centros de ensino, sobretudo os altos centros de ensino, e todos os centros de ensino em geral. E vai a esses centros, para recrutar seus agentes entre os filhos de famílias ricas, entre os filhos das famílias afectadas pelas leis revolucionárias. E a contra-revolução não vai justamente à escolinha pública que o Governo Revolucionário abre no meio das montanhas. Às montanhas, os contra-revolucionários nunca foram, nem de visita! [APLAUSOS]

A contra-revolução não vai aos quartéis e fortalezas convertidas em escolas, onde vão estudar os filhos dos operários e das famílias pobres [APLAUSOS]. A contra-revolução sabe que ali não tem nada para ela, o imperialismo sabe que não tem de buscar nada ali, e, quando vão buscar algo, não vão buscar exactamente entre os estudantes; vão buscar, se for o caso, entre os professores desses centros docentes [APLAUSOS].

Para falar com clareza, sim, com clareza, é porque ainda há alguns batistianos entre o professorado do segundo grau [EXCLAMAÇÕES e APLAUSOS], porque ainda há pró-imperialistas reaccionários e contra-revolucionários entre o professorado do segundo grau [APLAUSOS e EXCLAMAÇÕES de: “Fora!, Fora!”]. E a contra-revolução busca esses, a contra-revolução se dirige a esses, para convertê-los em instrumentos para os seus propósitos contra o povo. E a contra-revolução se dirige, sobretudo, aonde vocês sabem: aos colégios dos privilegiados [APLAUSOS]. Ali, nos colégios dos privilegiados, ali a contra-revolução tem o seu melhor caldo de cultura; e nos colégios dos superprivilegiados [EXCLAMAÇÕES], onde dificilmente haverá algum jovem cujos interesses de privilegiado, como grande fazendeiro, ou como grande comerciante importador, ou como grande proprietário de usina de açúcar, ou como grande representante das finanças, ou como grande proprietário urbano, ou como profissional a serviço desses interesses que a Revolução fez desaparecer da nossa pátria, dificilmente, dificilmente haverá um jovem que, de uma maneira ou de outra, não tenha sido afectado, nos seus interesses privilegiados, pelas leis da Revolução dos humildes, pelos humildes e para os humildes [APLAUSOS].

E, como nós falamos aqui em nome dessa Revolução, temos o dever de falar muito claramente ao nosso povo, sobretudo aos humildes do nosso povo [APLAUSOS], e falar também aos privilegiados de ontem e semiprivilegiados de hoje – porque eles ainda têm alguns privilégios –, sobretudo para que saibam que nós, os dirigentes da Revolução e o povo que sustenta, com o seu apoio, e com o seu entusiasmo, e com a sua invencível fé, esta Revolução [APLAUSOS], sabemos o que estamos fazendo, e conhecemos o problema a fundo. Que saibam, esses semiprivilegiados que sobraram por aí, que nós sabemos o porquê das coisas, e sabemos por que se encontra, nesses centros, o melhor caldo de cultura de contra-revolução.

E, quando nós falávamos aqui de professores contra-revolucionários, não estávamos fazendo, exactamente, uma crítica ao nosso companheiro Ministro da Educação. Não [APLAUSOS]. Não é tarefa fácil, enfrentar essa herança que o passado nos deixou. De qualquer forma, essa é uma consequência natural do processo revolucionário, e sobretudo do processo de uma revolução generosa como esta, de uma revolução que foi como esta, mas que não, por ser generosa, se debilitou, e sim, por ser generosa, tem a tremenda ascendência moral que tem sobre o povo, e a tremenda força moral que tem para actuar [APLAUSOS].

Em muitos desses centros, prega-se abertamente a contra-revolução, prega-se abertamente o ódio à pátria, prega-se abertamente o ódio de classes, o ódio contra o camponês humilde, contra o operário, contra o jovem humilde, contra o povo humilde. Ou seja, prega-se o ódio contra as medidas e os actos que foram feitos não para beneficiar minorias privilegiadas, que foram feitos não para manter os privilégios dessa minoria, mas que foram feitos para trazer a justiça aos que careciam dela, para trazer o bem-estar aos que careciam dele, para trazer o progresso e o melhoramento aos que careciam dele; e abertamente, descaradamente. E por que aberta e descaradamente? Ah, porque não há ninguém mais sonso no mundo que um contra-revolucionário! [APLAUSOS] Não há ninguém mais cínico no mundo que um contra-revolucionário! [APLAUSOS]

E o que sabem os escribas e os fariseus? Vocês sabem quem são os fariseus, e vocês sabem quem são os escribas, e vocês sabem quem são os anticristos aqui neste país [APLAUSOS]. São os que não lançam a sua sorte com os pobres deste mundo, os que não querem entrar no céu pelo buraco de uma agulha [APLAUSOS]. São os que querem que o camelo passe pelo buraco da agulha [APLAUSOS].

Esses, que nunca foram aos bairros humildes, que nunca foram às aldeias pobres e abandonadas; esses, que se dedicaram a encorajar os grandes privilegiados sociais e foram os seus professores; esses, fariseus e escribas, esses, que formam todos a caterva corrompida da contra-revolução, esses sabem, esses sabem o que estão fazendo.

Eles sabem o que a Revolução quer; eles sabem o que a Revolução se propõe; eles sabem que a Revolução é generosa. Eles sabem que a Revolução não quer fazer o seu jogo; eles sabem que a Revolução não quer pôr lenha na fogueira das campanhas internacionais contra a pátria. Eles sabem o que trazem nas mãos; eles sabem que aqui não vão confundir ninguém; mas eles estão a serviço de interesses internacionais. Eles não se interessam pelo jogo daqui, eles se interessam pelo jogo de fora; eles querem criar conflitos aqui, para fazer propaganda fora daqui.

Os que aqui usam os templos, ou as escolas dos superprivilegiados, para fazer campanha criminosa contra a Revolução,que tanto bem fez aos que tinha de fazer o bem: aos pobres e aos humildes da pátria [APLAUSOS]; os que querem levantar-se contra a pátria revolucionária, porque a pátria revolucionária destruiu interesses egoístas, destruiu interesses imorais, imorais ante os olhos dos homens e ante os olhos de Deus [APLAUSOS]; os que se levantam contra a pátria porque a pátria destruiu esses interesses imorais e egoístas; esses sabem que aqui não podem enganar ninguém; não podem nem mesmo despertar fanatismo no grupo de filhos de trapaceados, que eles querem transformar em agentes da contra-revolução, porque aqueles que morriam crucificados em Roma, aqueles que eram despedaçados no circo sem renegar as suas crenças não eram os filhos dos patrícios romanos; eram os filhos dos plebeus romanos! [APLAUSOS]

Aqueles que queimavam nas cruzes, aqueles que eram devorados pelas feras eram escravos ou semiescravos: os pobres de Roma. E, naqueles homens, a fé era sólida; aqueles homens não estavam acostumados aos prazeres da classe dominante, que vivia de festa em festa. Dificilmente, pois, poderão fazer heróis, ou fanáticos, ou fiéis a alguma crença, porque os que são fiéis a qualquer ideia religiosa ou política não são os fartos, não são os satisfeitos, não são os que na vida ignoram o que é o sofrimento e o que é a dor [APLAUSOS]. Dificilmente poderão fazer fieis servidores de alguma ideia, entre esses que passeiam em luxuosos automóveis; entre esses, em cuja mesa sempre os esperou abundante alimentação; entre esses que, no dia em que lhes falta algo, pensam que chegou a hora do Juízo Final [APLAUSOS]. E sim! Chegou a hora, na nossa pátria, do Juízo Final do privilégio e da criminosa exploração do nosso povo! [APLAUSOS]

Não encontrarão heróis entre os filhos dos privilegiados. Convicção, dessas que levam os homens a morrer por elas, não encontrarão nunca entre os filhos dos privilegiados, e não poderão inculcar-lhes a ideia de morrer, frente aos que, sim, estão dispostos a morrer [APLAUSOS]. Mas os recrutam, para fazer propaganda no exterior; os recrutam para provocar. Eles sabem o que têm nas mãos; sabem que a Revolução é generosa; sabem que a Revolução não quer pôr lenha na fogueira das campanhas contra a pátria, e se aproveitam disso para incutir – inclusive nas crianças, nas crianças cujas mentes ainda não estão formadas – opiniões reaccionárias, opiniões de classes que perderam os seus privilégios, opiniões egoístas, opiniões contra a pátria, opiniões contra a Revolução, opiniões contra o povo.

Sabem qual é a atitude da Revolução, e provocam. Talvez cheguem mais longe; talvez imaginem que a Revolução os teme; talvez imaginem que a Revolução vá tremer, no dia em que tiver de decretar o fim a tantos crimes e a tanta falta de vergonha! [APLAUSOS e EXCLAMAÇÕES de: “Fidel, seguro, nos ianques, bate duro!”]

Assumiram a tarefa de propagar as patranhas mais canalhas. E isso, apesar de a Revolução dar provas e mais provas da sua atitude com esses centros – porque, desde o primeiro momento, essa foi a política da Revolução, e inclusive chegamos a pedir, a um grupo de professores de um desses colégios, que renunciasse a uma atitude legítima. Para resolver o problema, nós lhes falamos e pedimos que mudassem de atitude, que renunciassem a direitos legítimos, em nome de uma política revolucionária que iria demonstrar, com factos, a sua atitude generosa com esses sectores, desde que estes não adoptassem uma atitude de plena beligerância contra a Revolução.

E essa mesma universidade de superprivilegiados, que, percebendo ali o patriotismo, expulsou um numeroso grupo de jovens cubanos [APLAUSOS], com essa universidade cem por cento ianque e americanófila [EXCLAMAÇÕES de: “Fora!”], tivemos o gesto de falar com os estudantes universitários, para pedir que fossem generosos com aqueles que, enquanto milhares de jovens se sacrificavam, e enquanto dezenas e dezenas de estudantes caíam assassinados nas ruas, nem sequer tiveram o elementar civismo de solidarizar-se com os seus companheiros da Universidade de Havana; e sob o crime, e sob o terror, lucraram com o sangue da pátria, matriculando a mais e mais estudantes, para assim beneficiar-se do civismo de uma universidade que fechou as suas portas e preferiu sair às ruas a combater contra a tirania! [APLAUSOS]

E, ainda assim, o Governo Revolucionário suavizou as medidas de sanção pedidas – com toda a razão – pelos estudantes que perderam dois, ou três, e até quatro anos de estudos, enquanto os “boyzinhos” recebiam graciosamente os seus diplomas de profissionais.

Ou seja, se tem alguma coisa de que não se pode acusar a Revolução, é a de ter sido agressiva ou hostil a esses centros de privilegiados. Mas a Revolução foi contra o privilégio, a Revolução foi contra os interesses económicos das classes privilegiadas. E, como não era uma questão de religião, não era uma questão de crenças religiosas, e sim uma questão de interesses materiais, sim uma questão de dinheiro, sim uma questão económica, tudo mais – a fé, a religião e outras coisas – serviram de pretexto para cutucar a ferida; não a ferida da religião, nem da fé, mas a ferida dos mesquinhos e egoístas interesses particulares [APLAUSOS], os interesses económicos. Porque a Revolução descobriu como é estreita, por exemplo, a ligação entre fazendeiros, militares e clero [EXCLAMAÇÕES de: “Fora!”].

Quando se fez a nacionalização das usinas de açúcar, descobriu-se que havia “gorjetas”, de até várias centenas de pesos, para alguns clérigos. Ou seja, não mandavam o cheque só para o policial; não mandavam o cheque só para o sargento, o tenente, o capitão e o comandante; não mandavam o cheque só para o advogado famoso, cujo escritório se encarregava de defender os interesses sacrossantos desses senhores. Mandavam o “chequinho” também, e mais o “chequinhozinho”, mandavam também para o padre [EXCLAMAÇÕES de: “Fora!”], criando uma repugnante relação entre o fazendeiro explorador dos operários e dos camponeses, o policial que surrava e assassinava, o advogado que cobrava somas gordas para defender esses privilégios, e o padre que pregava ali a submissão do operário e do camponês [APLAUSOS e EXCLAMAÇÕES de: “Fidel, seguro, nos curas bate duro!”).

Por isso, alguns desses policiais de batina [VAIAS], muito afastados, muito afastados das verdadeiras palavras de Cristo, começaram a fazer sermões contra-revolucionários nas igrejas [EXCLAMAÇÕES de: “Fora!”], e a escrever panfletinhos paroquiais que os próprios católicos, os próprios paroquianos enfrentaram com o Hino Nacional da pátria [APLAUSOS].

Ah! Isso, os bons fiéis não sabiam. Isso, o paroquiano humilde não sabia. Não sabia que aquele fariseu recebia o grande cheque do fazendeiro explorador dos pobres da nossa pátria! Isso, ele não sabia. E a Revolução não teve nenhuma atitude hostil com a religião; a Revolução não se meteu com ninguém em nenhuma igreja. A Revolução, simplesmente, nacionalizou usinas de açúcar, e ali, ali, fez o mesmo que em todos os departamentos do Estado: carona não! gorjeta não! [APLAUSOS]

A Revolução não se meteu com os interesses da fé, nem da religião. A Revolução, isso sim, afectou interesses materiais. As leis da Revolução não foram nunca contra nenhuma igreja. Qual lei revolucionária reduziu os direitos de alguma igreja, ou de algum culto? Qual lei revolucionária lesou alguma direito religioso? Ah! Mas as leis revolucionárias, sim, iam contra o latifúndio. As leis revolucionárias, sim, iam contra o monopólio estrangeiro. As leis revolucionárias, sim, iam contra o que explorava o inquilino pobre; foram contra os altos alugueres e foram, inclusive, contra a instituição do aluguer. As leis revolucionárias foram contra os interesses estrangeiros, foram contra os monopólios, foram contra tudo que lesava o interesse da pátria. Não se fez nenhuma lei revolucionária contra nenhuma igreja. E, se as leis da Revolução foram feitas contra bens materiais, é algo extremamente claro que a atitude de alguns clérigos com a Revolução não respondeu nunca a nenhuma razão de tipo religioso, e que, ao contrário, é porque mexe na ferida da afectação dos interesses económicos das classes com as quais estavam aliados [APLAUSOS].

E essas verdades já foram ditas aqui, nesta mesma tribuna, por um digno sacerdote católico [APLAUSOS]. Essas mesmas verdades foram aqui proclamadas por quem pode vir com a sua batina, falar aqui, numa tribuna revolucionária [APLAUSOS], para servir à sua pátria sem negar a Deus, para servir ao seu povo sem negar a Cristo.

E aqui, sim, pode-se servir a uma fé política e revolucionária e a uma fé religiosa, porque a república pratica o respeito pleno à liberdade de culto; o respeito pelos que creem, como pelos que não têm crenças religiosas. Mas uma coisa é certa: dentro da pátria, cabemos todos os que amamos a pátria! [APLAUSOS] Dentro da Revolução, cabemos todos os que amamos o povo!

Os que não cabem dentro da Revolução, são os que odeiam o pobre! Os que não cabem dentro da pátria, são os que odeiam o povo! Os que não cabem dentro da pátria, nem poderão servir nem a Deus e nem à pátria, são os que servem aos interesses dos ricos egoístas; os que servem aos interesses dos privilegiados! [APLAUSOS]

Esses são os que não podem falar nesta tribuna, onde brilha a verdade e onde toda hipocrisia e toda mentira foi abolida, desde o primeiro instante.

E estes argumentos explicam por que a contra-revolução tratou de tomar posições entre os estudantes, nas universidades e nos colégios privados. Nos colégios privados, vejam bem!, nós não nos metemos. Nós dissemos que íamos fazer escolas para os filhos das famílias humildes, melhores que as melhores escolas privadas, e estamos cumprindo a nossa palavra! [APLAUSOS] E é difícil que algumas escolas possam competir com o centro escolar de Cidade Liberdade [APLAUSOS].

E é lógico que, na medida em que esses centros para o povo progridam, algumas escolas de privilegiados comecem a minguar. Por duas razões: primeiro, porque há escolas melhores que elas; e, por outro lado, simplesmente porque os privilegiados foram expropriados. [APLAUSOS].

As coisas são claras. Esse dinheiro que antes passava pelas mãos do fazendeiro, esse dinheiro do grande comércio importador, das grandes finanças e dos grandes proprietários, que antes servia para sustentar escolas de privilegiados, agora esse dinheiro serve para fazer escolas para o povo. O Governo Revolucionário toma esses recursos e os converte em cidades escolares; e com muito mais razão do que com os quartéis e as fortalezas, que já estavam feitos e foram convertidos em escolas [APLAUSOS].

E o resultado é evidente: alguns desses colégios privilegiados quebram. Mas não aceitam enfraquecer economicamente, o que é consequência das medidas revolucionárias baixadas pelo governo, não contra eles, mas a favor do povo; e, naturalmente, eles não aceitam.

E o que tentam fazer? Antes de fechar as escolas, duplicam e triplicam a provocação, para que, já que as suas escolas vão fechando por falta de privilégios, fazer pensar, internacionalmente, que o Governo Revolucionário fechou essas escolas. O Governo Revolucionário não as fecha, mas eles, então, aumentam a dose de provocação, como estão fazendo nessa universidade da “Ianquilândia”.

E o Governo Revolucionário, nessas coisas ianques... o Governo Revolucionário, com tudo que cheira a imperialismo ianque, não hesita para tomar alguma medida. E o Governo Revolucionário não quis dar pretexto à contra-revolução, para fazer campanhas internacionais, mas isso não quer dizer, senhores da Ianquilândia, isso não significa que tenham direito à impunidade. Além disso, não se iludam, que nesta luta os pobres estarão com a Revolução [APLAUSOS], e os pobres lutam, os pobres lutam. E os privilegiados, os privilegiados ficarão sozinhos. E os privilegiados não são da mesma matéria que os dos tempos da antiga Roma, que sabiam morrer. Os privilegiados vão para a embaixada e pegam o atalho para Miami. Isso é o que muitos fizeram.

E o Country, esse bairro onde vale a pena passar, para ver como viviam alguns, e dali ir até o bairro de Las Yaguas, para ver como viviam outros, e que agora venham dizer que isso era justo, que isso era muito nobre, que isso era muito bom, e que a Revolução é muito má, porque quer que os de Las Yaguas tenham casas boas, e tenham pisos de cimento, e tenham instalações sanitárias, e tenham centros escolares, e tenham parques, e tenham pão para dar a seus filhos [APLAUSOS]. Que agora digam que a Revolução é má. É tão má, que deixou 30 caballerías1, pelo menos, aos grandes proprietários! Tomara algum morador dos bairros pobres tivesse 30 caballerías de terra! É tão má, que deixou seiscentos pesos de renda aos donos das grandes edificações! Tomara alguma família do bairro de Las Yaguas tivesse 600 pesos de ganhos mensais.

É tão má, que não tirou a casa de nenhum! Mas eles são “tão bons”, mas “tão bons”, que muitos deles ouviram dizer que os americanos vinham, acreditaram na história da infantaria e da marinha, e nos deixaram as 30 caballerías [EXCLAMAÇÕES], nos deixaram os 600 pesos. E, como eram ainda “mais bonzinhos”, ainda “mais bonzinhos” do que nós imaginávamos, nos deixaram a casa no Country Club [APLAUSOS]. Ninguém os despejou, mas como eles poderiam viver com 600 pesos? Esta era uma Revolução criminosa, que os matava de fome. Como poderiam viver com 30 caballerías? Esta era uma Revolução criminosa, que não lhes deixava nem onde plantar uma bananeira.

Como poderiam? E, além do mais, se os americanos iam chegar, se os americanos iam devolver os seus latifúndios, os seus negócios, iam subir de novo os alugueres, iam transformar de novo as escolas em fortalezas, iam tirar de novo a terra dos camponeses, tudo ia voltar a ser como antes, e eles não teriam problemas.

Para que viver aqui, neste país infernal, que fazia casa para as famílias pobres? Por que os pobres não podiam continuar vivendo nos barracos, naqueles bairros miseráveis, e eles vivendo naquelas residências que não têm nada para invejar das residências daquelas, já várias vezes mencionadas, famílias patrícias de Roma?

É possível que em muito poucos lugares do mundo haja residências como essas; é possível que, nos próprios Estados Unidos, centro do imperialismo, não haja muitas residências tão luxuosas como essas. E nós recomendamos, como um método de instrução revolucionária, passar por ali, pelo Country, dar umas voltas, dali passar pelas casas pobres de Marianao, que estão ao lado, uma linha divisória: onde termina a última residência, começa a primeira casa miserável. E esse era o mundo que eles queriam. E esse é o mundo pelo qual suspiram, um mundo onde 400 ou 500 viviam nesses palacetes, e milhões e milhões de famílias viviam como viviam as famílias aqui, que, até por esses minúsculos apartamentos de dois quartos, tinham de pagar 70 ou 80 pesos, em alguns casos [EXCLAMAÇÕES].

E por quê? Por que pagavam os 80 pesos? Por que o camponês trabalhava como um escravo? Por que o operário trabalhava como um escravo? Por quê? Para que a pátria... que Martí tinha dito que era “de todos e para o bem de todos”, e Martí disse isso, e disse bem claro, disse que a pátria era “de todos e para o bem de todos” [APLAUSOS]. E nem Martí nem ninguém disse que a pátria era de alguns poucos e nada mais, e para o mal de quase todo o país.

E a Revolução veio para quê? Foi para cumprir esse aforismo martiano, de que a pátria era de todos e para o bem de todos, e, além disso, cumpriu-o tão generosamente, que a história não regista casos similares. Cumpriu-o sem usar a guilhotina – porque é sabido que, na França, não deram um pé na bunda dos nobres, e sim lhes cortaram o pescoço em uma guilhotina [EXCLAMAÇÕES]. E no Haiti, quando os escravos se rebelaram – só para citar esses exemplos, e poderíamos citar muitos mais –, também cortaram o pescoço dos donos dos cafezais.

Os povos, quando se rebelaram, não tiveram procedimentos muito suaves. Aqui, os senhores expropriados não apenas receberam um bom tratamento, senão que, ademais, quando quiseram ir embora, pegaram o caminho da embaixada, fizeram fila na embaixada, e ninguém se meteu com eles, ninguém foi dizer: não, você fica aqui de qualquer jeito, vivendo na sua casinha do Country Club... [Alguém EXCLAMA: Agora é Cubanacán!”]. Para eles, continua sendo o Country Club; para nós, é Cubanacán [APLAUSOS]. A nossa atitude não foi essa. Querem ir? Podem ir! Não os incomodem. O Tio Sam vai pagar as despesas deles? Muito bem! Melhor que pague o Tio Sam, do que o Libório, que era quem estava pagando até agora [APLAUSOS].

E imediatamente formaram um comité para ajudar aos pobres emigrados, uns emigrados que ficaram com 30 caballerías de terra, e que ficaram com grandes contas nos bancos. Pois, que formem o comité. Não os incomodem. Essas 30 caballerías podem servir para dar emprego a mais camponeses e desenvolver mais a reforma agrária [APLAUSOS]. Esses 600 pesos a que renunciam servem para dar emprego a mais cinco operários, construindo novas casas [APLAUSOS].

E essas casas do Country Club? O que vamos fazer com elas? [EXCLAMAÇÕES de: “Escolas!”] Escolas não, porque as crianças pobres não vivem por ali.

Temos uma ideia. Ali há um capital investido em casas, em móveis... o que devemos fazer? [EXCLAMAÇÕES]. Não, essas casas, para nossos hóspedes, para os líderes operários, estudantis, camponeses, para os visitantes ilustres, que a Revolução sempre tem muitos ilustres visitantes [APLAUSOS]. Vamos preparar 100 casas, com Cadilac e tudo [EXCLAMAÇÕES], para os visitantes convidados pelo Instituto de Amizade com os Povos, que já se constituiu [APLAUSOS]. E vamos manter os jardins bem conservados, e vamos realizar uma série de planos.

Por exemplo, vamos escolher 100 jovens das Brigadas Juvenis de Trabalho Revolucionário [APLAUSOS] que queiram estudar idiomas e ser guias turísticos, vamos levá-los a uma escola secundária, onde vão preparar-se para estudar depois a carreira diplomática, mas, enquanto forem estudantes dessa escola secundária básica e pré-universitária, vão ser guias turísticos, motoristas desses Cadilacs [APLAUSOS], para levar os visitantes a ver as cooperativas, as granjas do povo, as cidades escolares e a obra da Revolução. Depois, esses mesmos estudantes irão à universidade, esses guias. E depois, no futuro, poderão chegar a ser até embaixadores da República [APLAUSOS].

E não vai nos custar nada prestar esses serviços, porque esses mesmos centros de educação podem prestar tais serviços, e vamos conservar os jardins, e vamos melhorá-los. E também vamos utilizar outros centros, e vamos capacitar uma parte dos alunos para atender os visitantes. Quando há visitantes, eles os atendem; quando os visitantes vão embora, eles voltam para a escola outra vez [APLAUSOS]. E, com isso, esses Cadilacs não gastarão muita gasolina; durarão bastante tempo, e estarão ali exclusivamente para atender os visitantes, quando houver visitantes.

É isso o que vamos fazer com as casas de Cubanacán, que “ilustres” famílias abandonaram voluntariamente, para ir refugiar-se nos “prédios hospitaleiros” do Tio Sam. Bem, muito obrigado pelas casas!

Foi isso simplesmente o que aconteceu aqui: um senhor foi embora e nos deixou uma escola que se chamava “Havana Military Academy”? Bem, já estamos construindo edifícios adicionais, e ali será a primeira escola politécnica do Exército Rebelde, aonde irão mil Brigadas Juvenis de Trabalho Revolucionário [APLAUSOS].

Aqui não ficará um só prédio vazio, porque a Revolução já tem organização, e já tem material humano para realizar todas as tarefas que se proponha, e alcançar todas as metas que se proponha. Já temos 600 internos universitários [APLAUSOS], e capacidade para dois mil mais; e três edifícios acabando de ser preparados para abrigar mais 2.500 internos [APLAUSOS]. E todo jovem de família humilde que queira estudar um curso universitário, só precisa pedir sua bolsa; não necessita “padrinho” [APLAUSOS]; não necessita carta de recomendação. Simplesmente vai à secretaria e diz: “Desejo estudar tal curso, e sou um estudante sem recursos económicos” [APLAUSOS].

O que fazemos com esses estudantes? Damos uma esmola? Não! É uma caridade do Estado? Não! Esses estudantes vão pagar depois os seus estudos [APLAUSOS]. Simplesmente lhes adiantamos os recursos. Como vão estar ali? Pois, nas melhores condições possíveis: lugares históricos, alimentação boa e adequada, livros, roupa, todos os gastos, e 10 pesos mensais no primeiro ano [APLAUSOS]. E, à medida que forem avançando, receberão mais recursos. Têm tudo para dedicar-se ao estudo; têm, também, a biblioteca; têm, também, os refeitórios; têm, também, o círculo social. Os da Cidade Liberdade têm lá os campos desportivos. Os que estão perto do estádio da universidade, têm aqui os seus campos desportivos. E vão levar uma verdadeira vida estudantil, enquanto se construa a cidade universitária.

Esses estudantes terão todas as oportunidades, para se tornarem excelentes profissionais. E depois pagarão, em 10 anos, com uma pequena parte dos seus ganhos, o que custaram os seus estudos, e ajudarão a que, quando eles terminem, milhares e milhares de novos estudantes possam estudar também, e receber as bolsas [APLAUSOS].

O que faz a Revolução? Oferece a oportunidade. E a Revolução vai fazer isso na Universidade de Havana, na Universidade de Las Villas...

[ESCUTA-SE UMA EXPLOSÃO PRÓXIMA]

...Não liguem, não liguem! São bombas que põem contra os pobres, bombas que põem contra o povo humilde. Nenhuma dessas bombas é colocada por um agricultor, um camponês que se livrou do arrendamento, ou que vive em uma cooperativa, ou trabalha em uma granja do povo, e recebeu professores, e recebeu moradias, e recebeu os benefícios da Revolução. Nenhuma dessas bombas é colocada por um camponês das montanhas, onde hoje há mil professores voluntários ensinando aos seus filhos. Nenhuma dessas bombas é colocada por um trabalhador humilde. Nenhuma dessas bombas é colocada por uma família a que tenham baixado o aluguer, de 70 pesos a 35 pesos, e a que agora tenham dado o direito de ser dona da casa [APLAUSOS]. Nenhuma dessas bombas é colocada por uma família cujo ser querido tenha sido internado em um hospital, sem carta de recomendação, sem influência, e que ali tenha sido curado, e em muitos casos lhes salvaram a vida. Nenhuma dessas bombas é colocada por uma família cujos filhos estejam estudando nessas fortalezas onde antes se albergavam os que assassinavam a essas mesmas crianças na nossa pátria. Nenhuma dessas bombas é colocada por um homem humilde do povo. Nenhuma dessas bombas é colocada por um patriota. Nenhuma dessas bombas é colocada por um verdadeiro cidadão que sinta pelos demais, que sinta pela sua pátria.

Quem coloca essas bombas? Quem coloca são os sicários, quem coloca são os expropriados, quem coloca são os agentes do imperialismo, quem coloca são os vendidos ao estrangeiro, quem coloca são os que se ajoelham diante do estrangeiro, os que querem ver a pátria ensanguentada! [EXCLAMAÇÕES de: “Fora! Paredão!” e “Cuba sim, ianques não!”].

Antes... antes, os revolucionários usavam dinamite para lutar contra a exploração, para lutar contra o crime, para lutar contra a tirania. Antes, os revolucionários usavam a dinamite para lutar contra o sicário, para lutar contra o politiqueiro ladrão, para lutar contra o corrupto, para lutar contra aquele que extraía a riqueza da pátria, para lutar contra o explorador imperialista, para lutar contra o privilégio. Ah! E era a custo de que o assassinassem, era a custo de que tratassem de arrancar-lhe confissões à base de torturas. O revolucionário que lutava pelo seu ideal sabia que tinha em cada esquina um delator, tinha em cada esquina uma radio-patrulha cheia de policiais, sabia que tinha quase em cada quadra uma câmara de torturas! Sabia que, nas delegacias de polícia, os instrumentos de terror estavam à sua espera; os ganchos para arrancar os seus olhos, os ferros em brasa para queimar os seus pés; os paus para moer os seus ossos! Que o inferno e o terror o esperavam nas delegacias de polícia! [APLAUSOS] O revolucionário sabia que o esperava o tiro maldoso na nuca, a bala pelas costas, o charco de sangue onde, ao amanhecer, encontrariam o seu cadáver. E o revolucionário enfrentava valentemente tudo isso, para lutar por um ideal. Ninguém lhe pagava, não recebia por esses serviços!

O contra-revolucionário, o agente do imperialismo, o criminoso que cobra na embaixada os seus serviços, que cobra dos privilegiados pelos seus serviços, esse sabe que não o espera a tortura nem o crime. Ele sabe que teve como garantia da sua própria vida a generosidade com que a Revolução tratou também aos próprios terroristas. Ele sabe que nenhum terrorista – e creio que não me engano –, creio que nenhum terrorista foi ainda ao pelotão de fuzilamento. Esta é a conduta do covarde terrorista contra-revolucionário [EXCLAMAÇÕES de: “Paredão!”]. Sabem que não se põe nem um dedo em cima de ninguém. Sabem que não se põe um dedo em cima de ninguém, numa delegacia. E sabem que a Revolução foi generosa. Sabem que os tribunais revolucionários foram benignos. Mas nós sabemos que, na alma de um mercenário, na alma de um vendido, na alma de um criminoso que cobra pelos seus serviços, na alma de um inimigo do seu povo, na alma de um inimigo dos homens humildes do seu povo, na alma de um servidor dos privilégios, não há coragem para afrontar os tribunais revolucionários e a pena que merecem pelos seus crimes. E, por isso, não é preciso impacientar-se. Essa é a prova da sua impotência.

Onde estão os mercenários que estavam treinando na Guatemala? Onde estão os aviões? Onde estão as barcaças de desembarque? [EXCLAMAÇÕES] Onde estão as legiões de mercenários? O que aconteceu, que não desembarcaram? [EXCLAMAÇÕES de: “Que venham!”] E agora se contentam em fazer barulho, agora se contentam com pôr bombinhas. Sabem a quantidade de milhares de homens – ou imaginam – que temos nas armas de apoio, nos canhões, nas antiaéreas e nas armas pesadas! [APLAUSOS] Imaginam o número de batalhões que se organizaram e armaram, imaginam a extraordinária mobilização do povo. E eles sabem o que significam esses canhões nas mãos dos operários, nas mãos dos camponeses e nas mãos dos estudantes, destes estudantes universitários, que se despojaram do seu uniforme, para vestir a camisa azul da milícia operária! [APLAUSOS] E compreenderam a grande honra que é irmanar-se e unir-se, ombro a ombro, com os trabalhadores do país.

Os inimigos da pátria e da Revolução sabem o que são esses canhões, e esses morteiros, e essas armas, nas mãos do povo. E como eles sabem que, se para desarmar e vencer uma casta militar, minoria insignificante, custou muito sangue e muitos sacrifícios, com o povo lutando pelos seus direitos; eles, lutando pelos seus privilégios e pelos privilégios da classe que defendiam, eles sabem que desarmar a classe operária e os camponeses do país, que tirar-lhes esses canhões, tirar-lhes essas armas... Canhões, sim, não simples fuzis automáticos, senão canhões de um considerável calibre e em um número também considerável! [APLAUSOS] Ainda não nasceram os mercenários que possam fazer isso! [APLAUSOS] Ainda não nasceram os imperialistas que possam fazer isso! [APLAUSOS]

E por isso ruminam a sua impotência, fazendo ruídos que só servem para estimular o povo. Que idiotas! [RISOS] Porque nós, quando lutávamos, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, uma ideia nos animava: a ideia de que tínhamos razão, de que defendíamos uma causa justa, que o povo se levantaria por essa causa, e que destruiríamos os inimigos. Que esperança eles têm de destruir o povo, defendendo fins indignos? Que esperança podem ter de vitória? Será que são tão incapazes de perceber, de perceber o que significa um povo armado? Serão tão estúpidos, a ponto de alimentar a mais remota esperança? Porque eles não poderiam nem mesmo enfrentar uma parte do povo. E eles, e mais os seus amos imperialistas, não poderiam enfrentar o nosso povo, e muito menos poderiam enfrentar uma parte do mundo, que nos apoia [APLAUSOS].

Onde estão, onde estão as suas esperanças? Por acaso vão mobilizar, contra a Revolução, o homem que não tinha trabalho, algum dos 200 mil trabalhadores que começaram a trabalhar no campo, após o triunfo da Revolução? Será que vão mobilizar, contra a Revolução, os 35% de novos trabalhadores industriais que encontraram emprego, após o triunfo da Revolução? Será que podem enfrentar a obra da Revolução? E não a obra dos meses que já passaram, e que, apesar de ser muita, ainda é inferior à obra que vai vir [APLAUSOS].

Como, se já começam a aparecer os frutos? Se já há 600 bolsistas na universidade? [APLAUSOS] Se já estão aqui os primeiros 600 brigadistas juvenis [APLAUSOS], dos primeiros dois mil que subiram cinco vezes ao pico Turquino? [APLAUSOS] Se já estão aqui os 600 que têm uma preparação de quinto ano ou mais, para se matricular em diversos centros? Cento e cinquenta, em uma escola de aviação [APLAUSOS]; os que tiverem mais interesse e melhores condições físicas, irão primeiro aprender a manejar máquinas de uso civil, trabalharão na vida civil, quer dizer, na vida civil em trabalhos agrícolas; e depois terão oportunidade de aprender aviação militar; e depois pilotarão os nossos grandes aviões de transporte [APLAUSOS].

E, assim, começarão os pilotos futuros… terão começado, todos, pelas Brigadas Juvenis de Trabalho Revolucionário “Camilo Cienfuegos” [APLAUSOS]; terão passado quatro meses na Serra, terão escalado cinco vezes o pico Turquino, e irão progredindo. Nenhum desses jovens nunca levará embora um avião [EXCLAMAÇÕES de: “Não! Nunca!”]. Esses jovens são o produto mais puro desta Revolução! [APLAUSOS] O maior e mais legítimo orgulho desta Revolução [APLAUSOS], a semente da pátria nova, os que constituirão uma geração mais preparada, para continuar a obra revolucionária. Porque a Revolução deve garantir a sua marcha ascendente, um futuro ainda melhor que o entusiasmo de hoje. E que um povo que se liberta seja substituído pelo entusiasmo de uma geração que será toda produto da Revolução.

Agora há pouco, estávamos falamos da herança do passado, e a herança que a Cuba de amanhã receberá será esta que estamos fazendo [APLAUSOS]. Serão as dezenas de milhares de profissionais bolsistas [APLAUSOS]; serão as dezenas de milhares de jovens escolhidos... escolhidos pelos seus méritos, pelas suas condições naturais; onde os fracos de carácter e de espírito ficaram para trás, e os melhores chegaram aqui, onde terão a oportunidade de continuar triunfando, de continuar progredindo. Nas escolas... alguns irão para a Escola de Artes e Ofícios Marítimos, e dentro de um ano [APLAUSOS], dentro de um ano, estarão pilotando as primeiras frotas pesqueiras [APLAUSOS], de pesca em alto mar, cujos navios já estão sendo construídos nos estaleiros nacionais [APLAUSOS]. Outros, a escolas navais, onde aprenderão, durante seis meses, os conhecimentos indispensáveis para ser tripulante de navios de guerra [APLAUSOS]. Servirão gratuitamente durante dois anos e meio [APLAUSOS]; esses dois aos e meio também serão, em parte, de aprendizagem, e, em parte, cuidarão da nossa costa [APLAUSOS], defenderão a nossa soberania, e depois terão emprego garantido na nossa Marinha Mercante Nacional [APLAUSOS] e percorrerão o mundo nos navios de Cuba.

 

Quer dizer que eles têm essa oportunidade: alguns, em escolas de aviação; outros, em escolas navais; outros, em escolas de pesca; outros, em escolas tecnológicas [APLAUSOS], onde também formarão unidades de combate, enquanto estiverem estudando [APLAUSOS].

 

Quando terminarem os seus estudos na tecnológica, poderão ou ir trabalhar nas fábricas, ou receberão bolsas na universidade, para continuar os estudos superiores [APLAUSOS]. E esses jovens são das famílias mais humildes; muitos deles vendiam jornais, outros engraxavam sapatos, outros faziam outros trabalhos. Esses jovens, esses, sim, são extracto puro da Revolução! [APLAUSOS] Entre eles, sim, que não irá nenhum contra-revolucionário a buscar seguidores. Que diferença dos “boyzinhos” da universidade ianque de Villanueva!

E qual alternativa pode restar, numa luta em que aqui estão os humildes, os jovens que passaram pelas provas mais duras e, além desse espírito formidável, são guardiões da Revolução, defensores da pátria, e pilotarão navios de guerra [APLAUSOS], e pilotarão aviões de combate [APLAUSOS], e manejarão armas pesadas [APLAUSOS], sem deixar de se preparar nem um momento para a vida civil, sem deixar de estudar? Ou seja, serão isso, e serão estudantes, e estarão preparando-se para o trabalho pacífico, para o trabalho criador.

E já são dois mil os que saíram, cada um com o seu professor, cada brigada com o seu professor. Os que já tinham um nível superior, para determinados centros; os que não tinham esse nível realizarão outras tarefas, enquanto estudam com os professores de ensino primário. Enquanto isso, vão, degrau por degrau, adquirindo conhecimento que lhes dê oportunidades iguais às dos que agora vão para as escolas tecnológicas. E, enquanto isso, repovoarão as nossas montanhas com madeiras, árvores para madeira, zonas enormes se encherão com milhões de árvores; realizarão obras [APLAUSOS] para o povo; construirão cidades escolares e irão marchando. Dois mil já foram aprovados; três mil mais estão, neste momento, nos acampamentos da serra Maestra, e dez mil estarão, no próximo 28 de Janeiro [APLAUSOS].

Dezenas de milhares de jovens como estes, do mais humilde e do melhor da nossa pátria, já estão se organizando, e serão técnicos, serão diplomatas, serão profissionais, serão operários especializados das fábricas, serão tripulantes de barcos, serão tripulantes de aviões, serão capitães de navios, serão capitães de aviões! [APLAUSOS]

E essa é a Revolução, a que busca o melhor da pátria, e com o melhor da pátria prepara o futuro melhor de todos os cubanos. E assim vamos, marchando em frente com o que temos. O que temos não é perfeito, recebemos a herança do passado, a herança, em muitos aspectos, negativa do passado. Mas, sem embargo, a geração presente reage, os profissionais reagem, e esses mesmos profissionais, uma grande parte deles, que são produto do passado, sem embargo, reagem, e reagem com a Revolução, reagem frente aos que abandonam a pátria, e vêm aqui, a esta mesma escadaria, aonde um dia vieram a adquirir esses conhecimentos que o povo pagou, para jurar, desde aqui, a esse mesmo povo, fidelidade à Revolução e à pátria. E esses profissionais reagem cada vez mais. E cada vez parecem mais miseráveis e mais mesquinhos, os covardes e os pobres de espírito que nessa hora abandonaram o seu país.

E já vemos essa reacção em médicos, em arquitectos, em engenheiros e em todos os profissionais. E nos próprios estudantes que hoje, ou nos próximos dias, vão se formar como médicos, e enviaram ao Governo Revolucionário um documento, que é para esse grupo um orgulho e também um passo de avanço, em um gesto que supera em qualidade revolucionária e patriótica os do curso anterior, porque os do curso anterior, muitos dos quais estão hoje no campo, dirigidos por dois ou três liderezinhos de conduta suspeita, esgrimiram demandas de tipo económico e, esquecendo totalmente a enorme necessidade que o país tinha de médicos, foram incapazes de ter um gesto positivo com a Revolução e com o povo; com a Revolução que se propõe a melhorar o nível de vida dos profissionais. Mas nós consideramos que não era correcto que um estudante recém-formado recebesse 240 pesos, durante os seis meses que vai estar no campo. Nós consideramos que era necessária uma prova, para que esses estudantes, os que ficaram no campo, então recebessem um salário muito melhor, mas que não deviam começar por 240 pesos, e que esses eram também meses de prova, porque, se esses jovens vão passar quatro meses na Serra, vão subir cinco vezes o pico Turquino e vão prestar serviço de trabalho voluntário durante três anos, era correcto que um universitário formado estivesse disposto a demonstrar a sua vocação de médico, o seu amor ao país.

E não se tratava do dinheiro, porque, para o governo, não significavam nada uns pesos a mais, ou uns pesos a menos; para a economia nacional, não significavam nada uns pesos a mais, ou uns pesos a menos. Era uma questão simplesmente moral, e o que nos interessava não era a quantia do pagamento por esses meses, o que nos interessava era a qualidade moral desses médicos recém-graduados. E aqueles do curso anterior não estiveram – e eu digo isso aqui, com a sinceridade e a honradez que nos caracteriza –, não estiveram à altura da Revolução, porque, quando lhes dissemos... bem, colocamos o problema em termos morais, e lhes dissemos: “decidam vocês”, dois ou três liderezinhos, francamente contra-revolucionários, os instigaram e os levaram a manter uma posição de tipo economista.

Entretanto, no curso deste ano, esses jovens que vão se formar este ano tiveram uma conduta diametralmente oposta. E aqui mesmo temos o documento que enviaram, e que diz:

“Os abaixo assinados, alunos do sexto ano de medicina, que dentro de poucos meses terminarão o seu curso, preocupados, ante uma série de fatos ocorridos nos últimos dias, e conscientes do momento crucial e revolucionário pelo qual passa a nossa pátria, querem deixar clara, de maneira definitiva, a sua posição ante a Revolução Cubana, e a sua atitude ante o dever sagrado de cumprir a sua função social.

“E, como consideramos improcedente fazer demandas económicas num momento em que, pelo seu lado, o povo de Cuba está disposto aos maiores sacrifícios, e por isso os déspotas do imperialismo ianque nos agridem de forma covarde, fazemos responsavelmente as seguintes declarações:

“Primeira: Apoiamos com a vida, se for necessário, as medidas e normas revolucionárias adoptadas pelo governo.

“Segunda: Estamos incondicionalmente à disposição das autoridades cubanas, para o que necessitem de nós, uma vez adquirido o nosso título.

“Terceira: Aceitaremos, com dignidade e espírito de sacrifício, o pagamento que o governo considere adequado poder pagar-nos.

“Quarta: Desejamos apenas ser úteis ao nosso país e utilizar os conhecimentos, adquiridos na universidade paga pelo povo, em benefício desse povo.

“Quinta: Rechaçamos, por contra-revolucionária, qualquer outra atitude que tenda a menosprezar o espírito revolucionário que cresce hoje na nossa pátria.

“Sexta: Pedimos a todos os companheiros do nosso grupo que adoptem esta postura revolucionária e demonstrem, ante o povo, o seu grande espírito de sacrifício e o seu amor pela pátria sonhada por Martí.

“Sexto ano da Escola de Medicina da Universidade de Havana” [APLAUSOS].

O que propomos para os profissionais? Simplesmente propomos pagar-lhes como merecem. Ou seja, pagar-lhes bem, porque um profissional necessita dedicar uma parte da sua vida a estudar, sem receber salário. Esse profissional merece o estímulo de uma boa remuneração, como compensação pelo esforço realizado e pelos serviços que presta ao país. Não nos importava o problema em termos de pesos a mais ou pesos a menos, mas em termos morais. O que nos interessava é o profissional revolucionário, queremos profissionais revolucionários, e o povo está disposto a pagar aos profissionais revolucionários como merecem [APLAUSOS].

E nós achamos que poderemos fazer isso, porque a economia do país se desenvolverá a um ritmo extraordinário. E necessitamos esses profissionais, estamos construindo centenas de povoados, e queremos que, em cada povoado construído, haja pelo menos um médico. Por isso, temos tanta necessidade de médicos.

Antes, os médicos não tinham trabalho, muitos deles. Tinham de trabalhar durante vários anos por uma miséria, recebiam uma miséria nos hospitais do Estado, ou recebiam uma miséria em consultórios de outros médicos. A Revolução pôs todos os profissionais a trabalhar. Não há um só profissional universitário que possa dizer que não tem trabalho. Não há um único médico, um único engenheiro agrónomo, ou civil, ou mecânico, que não tenha o seu trabalho garantido. Daí por que é imperdoável a conduta dos profissionais que foram embora, porque não foram quando o profissional era explorado, quando a imensa maioria dos profissionais não tinham oportunidade; não foram quando o país vivia em meio ao terror e ao crime. E entretanto foram embora agora, abandonando o seu país. E o médico que vai embora, o médico que, trabalhando em uma instituição nacional, em um hospital do povo, vai embora, é simplesmente um criminoso, mais criminoso ainda que qualquer outro profissional, porque o médico veio aqui estudar para salvar vidas, o médico veio aqui estudar para garantir vidas do povo [APLAUSOS]. E não se pode menos que qualificar de criminoso ao médico que, com o risco de que algum compatriota, ou muitos compatriotas seus possam perder a vida, abandone o território nacional.

Mas criminoso é também, criminosos são também os engenheiros, ou os arquitectos, ou os profissionais que traiçoeiramente abandonam o seu país.

O Colégio Médico Nacional, em assembleia de médicos, no dia de ontem, deliberou a esse respeito, e decidiu dar uma última oportunidade aos que queiram regressar, dar uma oportunidade até o dia 31 de Dezembro. Mas, a partir de 31 de Dezembro, nós consideramos que não se deve de dar nenhuma oportunidade a nenhum desses profissionais que abandonaram o seu país nas horas difíceis, porque é muito cómoda essa posição de abandonar a pátria, quando o perigo era iminente, para regressar depois, quando o país caminhe, como já está caminhando e como caminhará cada vez mais, por veredas de extraordinário progresso e bem-estar. Esses devem perder, no mínimo, a cidadania do seu país, e o direito de exercer a profissão aqui [APLAUSOS].

As residências estudantis já estão se enchendo de novos estudantes, e nessas residências vamos ajudar também aos actuais estudantes que não tenham recursos. E o Governo Revolucionário está disposto a gastar o que for necessário, para dar oportunidades para estudar, e para lotar as universidades de novos estudantes, e para preparar os profissionais para o dia de amanhã. Hoje não só já temos um estudante revolucionário, senão que temos toda uma universidade revolucionária, onde finalmente se realizaram grandes transformações nos seus programas de estudo, ou seja, finalmente se realizou também a reforma universitária [APLAUSOS]. Por isso, vale a pena fazer o esforço. Por isso, o povo fará o esforço com prazer.

No ano passado, falávamos da cidade universitária. Pois bem, em poucos dias, a cidade universitária começará a ser construída. E os estudantes vão ajudar, e os operários da construção vão ajudar, e as brigadas juvenis, e os Jovens Rebeldes vão ajudar [APLAUSOS]. E no ano que vem, em Setembro do ano que vem, teremos capacidade para oito mil estudantes, somente estudantes internos na Universidade de Havana.

Podemos, pois, contemplar o futuro com optimismo em todas as ordens, porque já se vê tudo cada vez mais claro, já se vê tudo cada vez mais seguro: mais organização, mais experiência, melhores perspectivas em todas as ordens, a Revolução mais forte, melhores circunstâncias.

Logo começará um novo ano. Basta dizer que, no novo ano, serão criados no campo... quer dizer, só através da reforma agrária, no próximo ano, daremos trabalho no campo a mais 200 mil cubanos [APLAUSOS]. E são números mais ou menos exactos, ou seja, sem exageros. Estamos em condições de dar trabalho no campo a mais 200 mil pessoas, apenas no campo, na agricultura! As perspectivas são boas em todos os sentidos.

O ano que vem será também o Ano da Educação. A batalha contra o analfabetismo é uma grande batalha. Nós nos propomos a eliminar até o último resíduo de analfabetismo, em um ano, e estamos certos de que ganharemos essa batalha, porque estamos trabalhando desde agora. Passará de 100 mil, o número de pessoas que vão trabalhar nessa campanha. Mas, se virmos que não é suficiente, a mesma mobilização que fizemos e estamos fazendo para defender o país, nós a faremos para combater o analfabetismo, e mobilizaremos dezenas e dezenas de milhares de estudantes, de operários, de jovens rebeldes e de pessoas do povo, que tenham preparação suficiente para ensinar, e iremos buscar até o último analfabeto, e o ensinaremos a ler e a escrever [APLAUSOS].

E o quadro internacional tem de melhorar. A Revolução triunfou, a Revolução é uma realidade, e a Revolução seguirá adiante, invencível. O que pode fazer o imperialismo, diante do quadro mundial que se apresenta? Não nos atacaram com mercenários, e cada dia que passou, e cada dia que passa, os mercenários têm um osso mais duro para roer aqui [APLAUSOS].

Por isso, a força militar da Revolução cresceu tanto, que podemos esperar pelos mercenários, que, por muito apoiados que venham, podemos esperá-los morrendo de rir: durariam bem pouco.

Além disso, o que o imperialismo conseguiu, com o seu “patrulhamento” nas Caraíbas? Mais descrédito, mais desprestígio, e também uma prova de que estão assustados, uma prova de que estão dando golpes às cegas. Acontece uma revolução na Guatemala, e mandam correndo os couraçados e os porta-aviões. O que quer dizer isso? Medo. E o que quer dizer? Que não é preciso exportar a Revolução, que as revoluções vão acontecer sozinhas em todo o continente americano.

O que fizeram com os seus navios? O ridículo. O que fizeram com as suas manobras? O ridículo. O que fizeram com as suas agressões económicas? O ridículo. E a libra de açúcar está caríssima nos Estados Unidos. Vamos ver o que acontece, no ano que vem, e vamos ver como eles se viram com o açúcar. Nós vamos planear a nossa política açucareira. No final de Dezembro ou princípio de Janeiro, vamos reunir a todos: os trabalhadores açucareiros das usinas, os cooperativistas, os colonos, todo mundo, e vamos fazer uma política açucareira de acordo com as perspectivas.

Há países que querem especular com a agressão económica a Cuba? Vamos ver quem pode competir com Cuba em produção açucareira. Cuba simplesmente vai estar em posição privilegiada no mercado, apesar da agressão. E vamos seguir uma política, vamos ver o que acontece, e vamos ver o que faz a nova administração, que substituirá a administração de Eisenhower [EXCLAMAÇÕES de: “Fora!”]. Vamos ver que linha segue, porque o senhor Kennedy fez muita demagogia durante a campanha eleitoral, incitando a agressão contra Cuba. Mas, como uma coisa é com o violão, e outra coisa é com o violino, vamos ver o que faz o senhor Kennedy, vamos ver. Vamos ver. Quem sabe se, com a campanha de alfabetização que estamos fazendo, o senhor Kennedy se alfabetiza politicamente e se reeduca politicamente. Talvez esta campanha de alfabetização possa contribuir para abrir a cabeça do senhor Kennedy. E então vamos ver o que fazem, vamos ver se querem continuar com a política de agressões contra o nosso país – política estúpida, política torpe, política fracassada –, ou se decidem deixar-nos em paz, que é melhor negócio para eles. Pelo menos, vão ter a oportunidade.

Para eles, estão custando caras, as agressões. Muitas fábricas se arruinaram nos Estados Unidos, e os muito ineptos dirigentes daquele país sacrificaram os seus próprios operários, sacrificaram as suas próprias indústrias.

E, com o embargo, não nos fizeram muito estrago. Depois do embargo, todos continuamos mais o menos bem; todos continuamos mais ou menos bem com as mesmas coisas. E como, por outro lado, a produção agrícola vem crescendo a um ritmo extraordinário, para o natal, já estamos armazenando frango congelado para o natal [APLAUSOS]; já estamos fazendo a colheita de grãos; há 50 mil perus, e há ainda mais: está se desenvolvendo de maneira tão extraordinária, a produção de porcos, de linhas especiais que estivemos desenvolvendo durante muitos meses, e cresce a um ritmo tão grande, que no natal vamos ter até leitão assado [APLAUSOS], para os fãs que não aceitam um natal sem esse prato.

O embargo fracassou. Nós fomos resolvendo os nossos problemas, e eles sacrificaram este mercado. Política incompetente. Bastaria que fizessem o mesmo em todas as partes do mundo, e teriam liquidado para sempre o imperialismo. Se fizessem com o mundo todo o que fizeram com Cuba, duraria seis meses. Vejam, vocês, como foram estúpidos com Cuba.

Ou seja, as perspectivas são boas em todos os sentidos. Vamos planear a nossa política açucareira, e vamos ver o que faz o imperialismo: se persiste nas suas agressões – problema dele –, ou começa a repensar e a compreender que a Revolução Cubana já é uma realidade indestrutível, e nos deixam em paz.

Nós queremos a paz. E por que queremos a paz? Porque temos grandes projectos; temos grandes planos; e vemos como tudo avança, e nos parece que já contemplamos o futuro do nosso país, o extraordinário futuro do nosso país, que será exemplo para todos os povos da América, e que será objecto do reconhecimento e da admiração dos outros povos do mundo. Nós precisamos da paz, para realizar essa grande obra. Nós desejamos investir toda a energia do nosso povo nessa obra. Nós não queremos sangue; nós não queremos ver cair nenhum jovem, nenhum soldado, nenhum miliciano, nenhum operário, nenhum cubano. Nós queremos ver todos trabalhando. Se nos armamos, foi para defender esse direito a trabalhar. Se investimos uma energia extraordinária preparando a nossa defesa, foi para garantir esse direito.

E continuaremos nos preparando, continuaremos melhorando a nossa defesa militar, porque, em última instância, isso é o mais seguro. A garantia mais segura frente ao imperialismo é estar bem armados. Mas isso nós estamos conseguindo. Logo estaremos bem armados e bem preparados, para nos defendermos de qualquer ataque [APLAUSOS]. E depois? Depois, vamos trabalhar, realizar os grandes planos da Revolução. Essa preparação militar nos dá direito a continuar trabalhando; foi uma precondição para continuar trabalhando. E talvez façamos o imperialismo entender que um ataque a Cuba é um ataque condenado ao fracasso; que um ataque Cuba seria o suicídio do imperialismo. E, na verdade, seria preferível para nós que o imperialismo não se suicidasse às nossas custas, senão que o imperialismo, às suas próprias custas, continue morrendo lentamente, até o seu total e inevitável desaparecimento histórico.

Essa é a nossa maneira de pensar; disso quisemos falar aqui hoje. Talvez faltem algumas coisas, mas não importa; o essencial está dito. Fomos francos, fomos sinceros. Dissemos a verdade com crueza, quando consideramos que devíamos dizê-la.

Mas também expressamos a nossa fé, o nosso optimismo. Hoje podemos, com mais certeza ainda, com mais confiança, falar assim nesta escadaria, porque na verdade esta escadaria está sendo, a cada dia, mais e mais revolucionária [APLAUSOS]; e esta escadaria está, a cada dia, se identificando mais e mais com o povo. E, na verdade, este é o melhor tributo aos mártires de 1871 e aos estudantes que deram as suas vidas jovens para isto que hoje estamos fazendo, para estes triunfos da pátria que hoje temos à frente.

E é realmente motivo de satisfação para todos, para todo o povo, para os estudantes e para todos nós, pensar, neste 89º aniversário, que aqueles estudantes, vítimas inocentes do monopólio, da exploração, do egoísmo, vítimas inocentes dos privilégios de ontem; aqueles inocentes que caíram pelo ódio que a ideia de justiça despertava nos odientos opressores de ontem, nos odientos interesses estrangeiros que exploravam a nossa pátria; que aquelas vítimas inocentes, sacrificadas pelo privilégio de ontem, junto com todos os mártires que caíram sacrificados pelos privilégios, contribuíram a que finalmente desaparecessem os privilégios, os da colónia e os da semicolónia, os da colónia espanhola, e os da colónia ianque. Vítimas, eles foram, da colónia espanhola. Vítima foi Mella, vítima foi Trejo, vítimas foram José Antonio Echevarría e todos os companheiros da sua geração [APLAUSOS], vítimas, vítimas da colónia ianque, dos fuzis ianques, da opressão e da exploração ianques.

Mas, no fim, o esforço de todos serviu para que não houvesse mais colónia, para que não houvesse mais privilégio, e para que a verdadeira liberdade e a verdadeira justiça, por fim, brilhassem um dia na nossa pátria.

E, ao render esta homenagem aos caídos, expressemos também o nosso reconhecimento aos que lutaram na guerra e continuaram lutando na paz. Expressemos também o nosso reconhecimento aos líderes universitários; o nosso reconhecimento ao líder máximo dos estudantes, o companheiro Rolando Cubelas [APLAUSOS], que soube exercer um papel na guerra e soube cumprir o seu dever na paz. Prestes a formar-se como médico, prestes a terminar a sua etapa universitária, ele merece o nosso reconhecimento público e sincero [APLAUSOS PROLONGADOS], e a nossa satisfação de saber que leva com ele a permissão que recebem os honrados: o direito a manter a cabeça erguida e o reconhecimento do seu povo!

A nossa expressão optimista e o nosso reconhecimento a toda a universidade. A nossa fé, e a nossa certeza de que a Universidade de Havana estará também na primeira fila, nesta hora criadora e gloriosa da pátria!

[OVAÇÃO]

1Caballería é uma medida de superfície. Em Cuba, é equivalente a 134.200 m2,. (N. do T.)

Departamento de Versões Estenográficas do Conselho de Estado