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Qual é a atualidade do pensamento econômico de Fidel?

Data: 

21/11/2023

Fonte: 

Granma Internacional

Autor: 

A visão de Fidel sobre os processos econômicos era tingida por seu contato próximo com a vida produtiva do país. Photo: Arquivo do Granma
«O mundo está passando por uma das piores crises econômicas de sua história». Foi assim que o Comandante-em-chefe Fidel Castro Ruz começou seu livro La crisis económica y social del mundo (A crise econômica e social do mundo), publicado em 1983. Quarenta anos depois, quem não se atreveria a subscrever essa frase?
 
Muitas das ideias ali expressas parecem ser o prenúncio do que estava por vir: as consequências da unipolaridade e a hegemonia de poucos que decidem o futuro de muitos.
 
A avaliação geral da situação internacional à qual o líder histórico da Revolução Cubana se referiu na publicação se reflete na realidade atual. Para citar apenas um exemplo, a publicação mostra a queda do Produto Interno Bruto (PIB) na década de 1970 e no início da década de 1980. Não é a mesma coisa que está acontecendo hoje, quando a maioria das economias não está crescendo como planejado?
 
No painel Fidel sobre a crise econômica e social no mundo: 40 anos depois, no 14º Encontro Internacional de Economistas sobre Globalização e Problemas de Desenvolvimento, José Luis Rodríguez García, doutor em Ciências Econômicas, pesquisador do Centro de Pesquisa em Economia Mundial (CIEM), comentou que Fidel apresentou esse livro na 7ª Cúpula do Movimento dos Não Alinhados em Nova Délhi, Índia, como o relatório final da presidência cubana desse movimento entre 1979 e 1983.
 
Rodríguez García, que foi um dos acadêmicos que fizeram parte da equipe de trabalho do Comandante-em-Chefe para a elaboração do texto, lembrou que, naquela época, Fidel havia desenvolvido um profundo conhecimento das relações econômicas em geral e das relações econômicas internacionais em particular.
 
Faustino Cobarrubia Gómez, pesquisador do CIEM, disse que o pensamento econômico de Fidel tinha tons acadêmicos, mas essa publicação era mais um relatório de denúncias sociopolíticas sobre a situação do mundo na época.
 
«O que acontece é que, 40 anos depois, não apenas continua válido, mas a crise é mais complicada e se apresenta com novas características, do ponto de vista tecnológico, militar, comercial e financiero», disse.
 
«No caso específico da crise económica», comentou Cobarrubia Gómez, «Fidel examinou a economia mundial com uma abordagem marxista revolucionária e, apesar de se referir a 1983, época em que ainda não havia sinais de uma crise econômica global, surgiram algumas tendências e desequilíbrios que pressagiavam a ocorrência desse fenómeno».
 
 
O pensamento de Fidel ainda é válido e foi ratificado na 14ª Reunião Internacional de Economistas sobre Globalização e Problemas de Desenvolvimento. Photo: Dunia Álvarez Palacios
«Desde então, o Comandante-em-chefe vem apontando para as perspectivas da economia mundial em tempos de crise, tema que retomou em 2001 e 2002 diante da crise econômica capitalista e da crise da tecnologia da informação», acrescentou.
 
O pesquisador do CIEM ressaltou que, naquela época, acreditava-se que o sistema capitalista havia encontrado a fórmula mágica para se proteger das crises, e que tudo dizia que as «tecnologias de comunicação» eram justamente a mágica, o milagre que levou a uma espécie de blindagem para a economia capitalista. «Em vez disso, Fidel conseguiu ver ali – na explosão tecnológica – o elemento causal das crises», disse.
 
Ressaltou que, em 2007, a crise estourou no coração do sistema capitalista, os Estados Unidos, que foi reconhecido como a grande decepção. «Essa crise se espalhou para outros países, e o mais preocupante é que ainda não terminou e é evidência de uma longa depressão global, tanto que muitos países não recuperaram os níveis de produção que tinham antes desse evento», disse.
 
O Livro Vermelho – como também é conhecida a publicação de Fidel – é a pura evidência dos fenômenos e processos que estão ocorrendo neste momento nas relações comerciais e financeiras: a queda na produção por falta de demanda, as compensações por pagamentos de dívidas, quando se investe mais na corrida armamentista do que em colaborar ou facilitar o progresso dos países em desenvolvimento.
 
FIDEL E O COMPROMISSO COM O CONHECIMENTO POPULAR
 
Falando nesse painel, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, primeiro-secretário do Comitê Central e presidente da República, referiu-se ao movimento de convocação política em nível internacional liderado por Fidel, ao qual também se uniu um chamado à educação política popular em Cuba.
 
«O Comandante-em-chefe concebeu que as batalhas eram vencidas com consciência, por isso era necessário semear a consciência no povo», disse o líder cubano.
 
Díaz-Canel disse que isso é algo que não podemos perder de vista, porque Fidel sempre envolveu o povo. Também lembrou que, em 1983, após a publicação do livro La crisis económica y social del mundo, foi iniciado um processo de massa no país para estudá-lo em centros educativos, locais de trabalho e unidades militares.
 
SOBRE PROBLEMAS FINANCEIROS E A CRISE DA DÍVIDA
 
Carola Salas Couse, doutora em Ciências Econômicas e diretora do Centro de Pesquisa em Economia Internacional, da Universidade de Havana, comentou que, estruturalmente, as questões relacionadas aos fenômenos financeiros e à dívida externa levantadas por Fidel, tanto no livro quanto em discursos posteriores, permanecem as mesmas.
 
Acrescentou que Fidel foi um dos grandes promotores da compensação da impagabilidade da dívida externa do Terceiro Mundo por meio da redução das despesas militares, com base em uma lógica humanista que vinculava a eliminação de uma dívida que irradiava pobreza e sofrimento humano à redução das despesas militares que ameaçavam levar a uma guerra nuclear.
 
O pesquisador se referiu aos mecanismos de financiamento e às alternativas monetárias ao dólar, desenvolvidos por vários países que, embora estejam começando a dar passos positivos, ainda não se consolidaram na velocidade necessária.
 
No caso específico do Brics, comentou que, apesar de ser uma integração que gera esperança de progresso, à medida que mais países se juntam, os interesses mudam e fica mais complicado chegar a um consenso.
 
Salas Couse enfatizou que «o pensamento de Fidel ainda é válido, e é um compromisso garantir que suas ideias sejam cumpridas».